Espírito do Silêncio*
Referência: Marcos 9:14-29 (Leia antes)
VOCÊ ESTÁ BEM?
Eu me sento todas as semanas no gabinete pastoral com irmãos e irmãs muito queridos, que eu amo muito. E, em geral, começo o gabinete perguntando como a pessoa está, e depois oro. Muitas vezes, por formalidade, a pessoa me responde: “tá tudo bem”, mas não está tudo bem. Passamos 40 minutos, 1 hora conversando, e a pessoa não disse nada. Às vezes até fala muito, intensamente, mas não diz nada.
O Evangelho de Marcos que lemos aqui nos conta a história de um pai desesperado por conta da situação do seu filho. O menino está muito endemoninhado, e o demônio o impede de falar e de ouvir. Existe uma trava na boca e nos ouvidos do rapaz. Ele não consegue falar. E o seu pai está desesperado. Os discípulos tentaram expulsar o demônio, mas não conseguiram. Então Jesus, que está chegando do monte da transfiguração, vai até o menino e expulsa o demônio que o impede de falar e ouvir.
Aquela força espiritual imunda, aquele espírito sem a luz de Deus, coloca suas mãos sobre os ouvidos do menino e impede que a voz saia dos seus lábios.
É importante dizer que a passagem não trata de surdez nem de epilepsia, pois a surdez é uma condição humana e a epilepsia é uma doença neurológica. Surdos não são endemoninhados, nem epilépticos. O caso aqui é outro: esse rapaz não é surdo, nem epiléptico; é um espírito que o impede de falar, ouvir e que lhe causa convulsões.
Então, o pai do menino vai procurar a cura através de Jesus.
Jesus pergunta ao pai desde quando o menino está assim, endemoninhado, sem falar e sem ouvir. O pai responde que desde a infância. Desde a infância, aquele menino não fala nem escuta.
O pai tenta falar com o filho, mas o filho não ouve e também não se comunica com o pai. A relação entre eles é anulada por essa força espiritual maligna, um espírito imundo. A força impede o filho de se relacionar com o pai, e o pai está angustiado: não sabe mais o que fazer. Ele quer falar com o filho, quer ouvir a voz dele, quer dialogar — mas o demônio, de dentro do menino, fecha todos os canais de comunicação. Sem diálogo, “lança-o por terra, e ele espuma, range os dentes e vai definhando” (Marcos 9:18).
Existe um demônio impedindo a relação de pai e filho.
Repare: é um demônio, não Satanás. Satanás age externamente no mundo, causando ódio, guerra, genocídio, miséria, pobreza; ele atua nas estruturas de poder, dificultando o acesso à verdade, à ciência, à medicina.
Satanás é o “pai da mentira” (João 8:44), propagando a mentira externamente. Vimos isso muito na pandemia: enquanto a ciência orientava a não aglomerar, Satanás dizia o contrário. Enquanto a ciência recomendava vacinar, Satanás espalhava mentiras sobre chips e outras teorias.
O Diabo não vem senão para matar, roubar e destruir (João 10:10). Ele age fora, na estrutura do mundo.
Já os demônios, essas entidades espirituais imundas, agem de dentro do ser humano, distorcendo pensamentos, sentimentos e ações, afastando-nos da vontade de Deus. Por isso, eles precisam ser expulsos. E só o nome de Jesus tem poder sobre eles.
Deus é comunicação. Deus é diálogo. Deus é Verbo.
No momento em que o diálogo entre pai e filho é cortado, no momento em que a comunicação entre seres humanos é interrompida, ali se instala o Espírito do Silêncio, completamente contrário a Deus.
O menino não fala com o pai; encerra seu diálogo e sua comunhão desde a infância. O demônio está dentro dele, mas também está no meio da relação, travando a comunicação. Sem relação com o próximo, não há relação com Deus, porque Deus habita no próximo.
Quando o fio da comunicação é cortado, tudo o que falamos é interpretado através do ódio, do rancor, da dor. O Espírito do Silêncio se instala. O fim é como o menino: lançado ao chão, espumando, ferido, perdido nos excessos e na confusão mental.
Os discípulos não conseguem expulsar esse demônio, porque ele só se afasta com oração. É preciso fechar os olhos e dialogar com Deus, reconstruindo a comunhão com Ele e com o próximo.
Queridx, o Espírito do Silêncio só sai através da comunicação, da oração e da comunhão plena com o Senhor e com os teus irmãos. Não permita que ele se instale na sua vida. Abra a boca, fale com o próximo, compartilhe o que sente.
Oração:
Espírito do Silêncio, espírito que impede você de se comunicar e ouvir teus irmãos e irmãs, em nome de Jesus, saia.
Espírito que faz ouvir a preocupação dos pais como controle, em nome de Jesus, saia.
Espírito que isola, que afasta de relacionamentos saudáveis e gera depressão, ansiedade e desejo de morte, em nome de Jesus, saia.
Espírito que fecha os ouvidos e impede de aceitar seu chamado, sua vocação, seu ministério, em nome de Jesus, saia.
Na autoridade do nome de Jesus, pelo sangue derramado na cruz, todos os caminhos de comunicação entre você, seu irmão e Deus estão restaurados. Porque o nome de Jesus está acima de todo nome, e nele se dobram todos os joelhos, nos céus, na terra e debaixo da terra.
Louvado seja o nome de Jesus!
Rev. Luiz Gustavo Silva
*Igreja da Comunidade Metropolitana do Rio de Janeiro - Pregação do Rev. Luiz Gustavo Silva no Culto de Louvor e Adoração do domingo, 07 de novembro de 2021 (Pandemia).
Referência: Isaías 43:16-19
Você conhece a música "Igreja Pequena", de Cassiane? Ouça antes de ler esta reflexão*: https://www.youtube.com/watch?v=FeTrKi7F_S8&list=RDFeTrKi7F_S8&start_radio=1
“Assim diz o Senhor, que preparou um caminho no mar e uma vereda nas águas impetuosas; que fez sair os carros de guerra e os cavalos, o exército e a força, e eles jazem ali e jamais se levantarão; estão extintos, apagados como um pavio. Não fiquem lembrando das coisas passadas, nem pensem nas coisas antigas. Eis que faço uma coisa nova. Agora mesmo ela está saindo à luz. Será que vocês não percebem? Eis que porei um caminho no deserto e rios nos lugares áridos.” (Isaías 43:16-19)
Você se lembra com saudades da igreja da sua infância? Das celebrações, dos cultos, das festas, dos natais, da Páscoa? Lembra das pessoas, dos pastores, da alegria que parecia pulsar naquele lugar? Pois bem… Se você lembra disso exatamente da forma que estou descrevendo, talvez você não seja uma pessoa LGBT. Ou talvez a sua memória esteja te enganando, o que é muito comum.
Como pastor e também como professor de história, eu sei o quanto a memória humana seleciona e edita lembranças para não doer tanto. Talvez, ao ouvir essa reflexão ou a música “Igreja Pequena”, da Cassiane, você tenha feito uma viagem ao passado, escolhendo apenas as partes boas e confortáveis da sua infância na igreja. Isso não é incomum. Muitas vezes criamos histórias idealizadas de uma igreja, de uma infância ou de uma família que, na verdade, só existiram em nossa mente. Reconhecer isso é um passo importante para a cura espiritual, e é justamente para isso que este Culto de Cura*, celebrado nas terceiras quartas-feiras de cada mês, foi criado, para nos ajudar a encarar a verdade.
Na antiguidade, o povo de Israel também inventava para si mesmo histórias e tradições para trazer consolo em tempos difíceis. Mas o profeta que conhecemos como Deutero-Isaías os chamou à realidade, suas memórias poderiam inspirar, mas não poderiam servir de alicerce para o presente. E é nessa hora que a Palavra de Deus ressoa com força: “Esqueçam o que se foi; não vivam no passado. Vejam, estou fazendo uma coisa nova! Ela já está surgindo! Vocês não o percebem? Até no deserto vou abrir um caminho e riachos no ermo.” (Isaías 43:18-19)
Você vai continuar preso à mentira que contou a si mesmo? Se você é uma pessoa LGBT e foi uma criança LGBT numa igreja, provavelmente esse foi um dos piores lugares para se estar na infância. Mas é difícil admitir isso. Então, criamos a fantasia da “igreja da nossa infância” para suportar a dor. Mas se você deseja ser curado, precisa deixar de se enganar. Precisa reconhecer a verdade. A canção diz:
“Igreja pequena, onde Deus falava
O poder caía e a Sua igreja Jesus visitava
Onde está agora aquela igrejinha?
Que o louvor subia
E no mesmo instante o poder caía”…
E onde está agora aquela igrejinha? Na maioria dos casos, continua no mesmo lugar, reproduzindo machismo, racismo, homofobia, apoiando a extrema direita e dizendo que você é uma abominação.
Chegou a hora de abrir os olhos. Chegou a hora de enxergar o que Deus tem feito hoje. Chegou a hora de parar de se iludir com um passado que nunca existiu. “Eis que faço uma coisa nova. Agora mesmo ela está saindo à luz. Será que vocês não o percebem? Eis que porei um caminho no deserto e rios nos lugares áridos.” (Isaías 43:19)
Hoje o Senhor te oferece um caminho no deserto e rios em lugares áridos. Você vai escolher continuar preso a um passado ilusório ou caminhar para a novidade de vida que Deus preparou para você? O apóstolo Paulo nos lembra em Filipenses 3:13-14: “Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço, esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.”
Deixe as coisas que ficaram para trás, irmão, irmã. Viva hoje a plenitude do que Deus tem preparado para você. “Esqueçam o que se foi; não vivam no passado.” (Isaías 43:18)
Em nome de Jesus. Amém!
Rev. Luiz Gustavo Silva
*Esta foi uma reflexão feita pelo Rev. Luiz Gustavo Silva, em um Culto de Cura online, em 19 de abril de 2020, início da pandemia de COVID-19.